Para Rúben, a pesca é mais do que trabalho, é vida. Não há hora de sair, nem de chegar. Não há hora de ir dormir, nem de acordar.

 

 

A rotina na pesca depende do tipo de pesca que andamos a fazer. Não há hora de sair, não há hora de chegar, não há hora de ir dormir, nem há hora de acordar. Eu sou de Santa Cruz. Faço todos os dias 35 quilómetros para ir trabalhar e durante o caminho para Peniche vou organizando as minhas ideias. Umas vezes bate certo, outras bate errado, mas é mesmo assim. Bebo meu cafezinho, é o meu primeiro amigo. A primeira pessoa que me diz bom dia é o café.

 

A minha relação com o mar começou desde novo. O meu pai e o meu avô já pescavam à cana na praia, pesca desportiva. Aos 14 anos comecei a trabalhar na praia como vigia, a montar as barraquinhas e por aí fora. Como o interesse na pesca sempre esteve presente, tirei a cédula marítima. Comecei a trabalhar na pesca na Ericeira, depois fui para Peniche.

 

 

 

“Às vezes somos só nós, o mar e as gaivotas”

 

Eu comecei na pesca profissional com um amigo que tem vários barcos em Peniche. Ele deu-me a oportunidade de começar a trabalhar com ele e posso dizer que é o meu mentor da pesca profissional. Depois, tive quatro anos a trabalhar fechado numa empresa a fazer serigrafia. Mas eu não sou pessoa de estar fechado. Sou pássaro da rua e, então, decidi voltar para o mar. Investi o que tinha e o que não tinha, mas hoje posso dizer que tenho o Pai Herói e que espero que tenha pernas para andar ou, neste caso, casco para navegar durante algum tempo e que me dê mais alegrias do que tristezas.

 

Trabalhar à noite transmite-nos calma, sossego, pouco barulho. Às vezes somos só nós, o mar e as gaivotas. Eu não me vejo a fazer outra coisa. Já que investi, sempre gostei disto, e agora que agarrei isto com unhas e dentes, não vou largar, como é óbvio.

 

 

Ruben a bordo

 

Eu e o meu amigo Renato, com quem eu comecei a trabalhar, adoramos isto. Isto para nós, para além de trabalho, é vida. É o nosso estilo de vida. Decidimos criar um grupo no Facebook que se chama “Pesca Profissional Portugal”, porque um dos nossos objectivos também é promover a pesca. Os jovens são tão poucos. Qualquer dia é só reformados. E os reformados largam os barcos, e afinal de contas, somos o quê? Pescadores? Somos o quê? Pescadores, não é? Queremos ser valorizados por isso.

 

“Muitas vezes desprezamos o mar”

 

Hoje em dia há uma grande questão à volta da sustentabilidade, do planeta, da poluição e por aí fora. Na pesca profissional somos muitas vezes vistos como os maiores criminosos ambientais em termos de poluição do lixo marinho, mas é preciso esclarecer um pormenor. Ninguém tem prazer em perder arte. A arte é cara e nós precisamos dela para trabalhar. É a mesma coisa que eu dizer que uma pessoa está a trabalhar num escritório num quinto andar, pegar no computador e o mandar de uma janela abaixo. Não faz sentido nenhum. Nós não queremos perder arte. Ninguém gosta de trabalhar em cima de lixo. Os barcos andam sobre a água. Se há lixo na água, vamos ter lixo na hélice, e se temos lixo na hélice, temos avarias. E ninguém quer avarias. As pessoas têm de perceber que as coisas quando aparecem na praia são puro acidente e não são de propósito.

 

Os recursos que o mar nos oferece em Portugal são enormes, e muitas vezes desprezamos o mar. Costumo dizer que nós somos um país virado para o mar, mas ao mesmo tempo de costas para ele. E no mar não há falta de trabalho. Há é falta de pessoas que queiram trabalhar.

 

Conheça a história do Rúben, aqui:

 

 


Agora que conhece o Pedro, deixe-se levar nesta viagem pelas vidas daqueles cujas vidas se cruzam com o dia por um instante e decidem viver em ContraCiclo. Todos os episódios, aqui.