Há mais de 16 anos que os dias de Tatiana começam à noite. Ainda menina, com 12 anos, já gostava de ajudar os pais no trabalho da padaria. Hoje, com 32 anos, não se imagina a fazer outra coisa.

 

O avô materno era padeiro. Os pais sempre trabalharam como padeiros e, aos 12 anos, Tatiana começou a ajudá-los na padaria, ganhando o gosto pelo ofício. Aos 15 anos, constraiando aquilo que a mãe gostaria, decidiu que não queria continuar a estudar e que o seu caminho passaria por agarrar o negócio da família. Quando a questionamos se foi a decisão certa, a sua resposta é pronta e acertiva: até hoje, não se arrependeu da sua opção.

 

O relógio toca cedo. Às quatro da madrugada, quando todos dormem, a Tatiana começa o dia, quando para nós ainda é noite.  Ao chegar à padaria, já os seus pais estão a trabalhar. Para eles, o dia começou quando para muitos terminou: à uma da manhã.

 

A massa do pão já foi amassada e Tatiana começa por ajudar a mãe a fazer as bolinhas para as colocar no forno. Segue-se a produção do pão com chouriço e do pão com torresmos e o ensacamento das bolinhas já prontas. Está na hora de carregar o carro e começar a distribuição do pão pelos clientes habituais.

 

 

Muitos viram-na começar, ainda menina. Agora é mãe e é nesta profissão, que lhe ocupa as noites, que tira o maior proveito da sua vida: ter tempo para ver o Tomás crescer. Confidencia-nos que é assim que consegue ganhar tempo para ir buscar o filho todos os dias à escola ou a acompanhá-lo nas suas actividades num horário que nem todos os pais têm oportunidade para o fazer. Mais ainda, tem tempo para se dedicar a si e às coisas que gosta de fazer, sejam as aulas de sevilhanas com a prima ou os momentos que dedica à sua grande paixão: a equitação.

 

 

Foi connosco que recordou os tempos difíceis do primeiro confinamente, quando o mundo parou, se fechou em casa com receio do desconhecido e o simples facto de sair para comprar pão era travado pelo medo.  “Parecia que todos os dias eram vésperas de Natal. Todas as pessoas queriam pão e mais pão. Durante a pandemia começaram a dar mais valor a quem vive "esquecido". As pessoas aprenderam que nosso trabalho também é importante".

 

Perguntamos pela solidão de viver à noite mas a Tatiana diz com um sorriso nos lábios que não se sente sozinha por trabalhar à noite. Confessa até que tudo é mais tranquilo. “A noite para mim não é solitária. A noite é o meu dia-a-dia. É a minha companhia.”

 

Conheça a Tatiana na entrevista completa. 

 



 

Agora que conhece a Tatiana, deixe-se levar nesta viagem pelas vidas daqueles cujas vidas se cruzam com o dia por um instante e decidem viver em ContraCiclo. Todos os episódios, aqui.